Um novo projeto de lei em discussão na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que visa autorizar a construção de edificações residenciais e comerciais em cima de áreas já ocupadas por grandes comércios, como shoppings e supermercados, está gerando forte reação. A proposta, que altera os parâmetros urbanísticos de diversos bairros, suscita particular preocupação entre as lideranças comunitárias da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes, bairros pertencentes à chamada Zona Sudoeste, que seriam os mais impactados.
Representantes de associações de moradores manifestam grande apreensão, temendo que a medida agrave o já crítico adensamento populacional e comprometa a qualidade de vida na região. A principal crítica reside no impacto no tráfego, visto que o colapso viário já é uma realidade nos horários de pico. Uma liderança do Recreio alertou que inserir novos empreendimentos sem a devida infraestrutura é “ignorar a realidade local”, lembrando que shoppings e hipermercados foram projetados para fins comerciais, e não para suportar torres residenciais.
Críticas ao Planejamento Urbano
A ausência de estudos de impacto urbanístico e ambiental é outro ponto recorrente nas críticas. Os moradores receiam que o aumento da densidade populacional sobrecarregue serviços essenciais como transporte público, redes de água e esgoto, além dos serviços de saúde e educação. Um porta-voz da Barra da Tijuca resumiu o sentimento, afirmando que “transformar o comércio em condomínio não é planejamento urbano, é improviso”.
Especialistas em urbanismo corroboram as preocupações, sugerindo que a flexibilização indiscriminada pode ter um “efeito em cadeia”, estimulando a verticalização em locais que deveriam preservar sua função como “pulmões urbanos” e áreas de lazer e circulação. Segundo uma arquiteta da região, a alteração do uso dessas áreas pode eliminar essa função vital.
Contraponto em Jacarepaguá
Em contraste com a postura das lideranças da Barra e do Recreio, parte dos representantes de Jacarepaguá demonstrou-se mais aberta à proposta. A Associação de Moradores e Amigos de Jacarepaguá (Amaja) vê o projeto como uma potencial oportunidade para revitalizar áreas ociosas e incentivar a moradia em proximidade a centros comerciais. A entidade manifestou, em nota, que “desde que haja contrapartidas claras e respeito aos limites de infraestrutura, pode ser um caminho para reduzir deslocamentos e gerar empregos locais”.
Próximos Passos
O andamento do projeto na Câmara Municipal dependerá da mobilização popular, uma vez que ainda será objeto de audiências públicas. Os líderes comunitários dos bairros contrários planejam utilizar abaixo-assinados e participação ativa nas sessões da Câmara para pressionar por mudanças no texto.
O cerne do debate reside no dilema de como conciliar o crescimento urbano com a manutenção da qualidade de vida. Para muitos, a solução não está na simples adição de edifícios sobre áreas comerciais, mas sim em um modelo de crescimento que seja pautado pelo planejamento, pela sustentabilidade e por um diálogo efetivo com a população local.



