A Polícia Civil do Rio de Janeiro investiga denúncias de assédio moral e sexual contra o empresário Nicolay Andrade Faria Ribeiro, conhecido como Nico Anfarri. Ele foi sócio da academia DNA Experience, com unidades no Grajaú e na Barra da Tijuca, mas acabou se afastando da sociedade após denúncias recebidas por um canal interno da academia.
As acusações foram feitas por funcionárias e ex-alunas, que também alegam omissão por parte da personal trainer Carolina Vaz, ex-sócia da academia. Carolina nega todas as acusações.
Em um dos trechos do canal de denúncias internas da DNA Experience, pergunta-se se algum diretor ou sócio estaria sendo acusado de ignorar problemas ou tentar apagar evidências. Uma das denunciantes afirma que Carolina Vaz ignorou denúncias de assédio moral e sexual que envolviam Nicolay.
Entre os relatos estão beijos forçados, mensagens de WhatsApp com convites e comentários inapropriados, pedidos para que funcionárias desfilassem de biquíni ou roupas provocantes, além de chantagens por fotos e vídeos íntimos. Em nota oficial, a academia afirmou que Nicolay foi afastado após comprovação das denúncias e que Carolina tinha ciência do que ocorria.
O delegado Neilson Nogueira, titular da 16ª DP (Barra da Tijuca), confirmou que alguns registros já foram feitos e que todos os envolvidos serão ouvidos para apuração dos fatos.
Carol Vaz, por sua vez, diz nunca ter sido informada de nenhuma denúncia e garante que teria agido imediatamente, caso soubesse.
Procurado pela reportagem, Nicolay não respondeu. Na delegacia, ele afirmou ser vítima de denunciação caluniosa e negou todas as acusações.
Canal de denúncias e desligamento

Panfleto de canal de denúncias da academia DNA, na Barra da Tijuca
Segundo o atual sócio da academia, José Antônio da Rosa, os primeiros boatos sobre a conduta de Nicolay surgiram em 2023, após a inauguração da nova unidade na Barra da Tijuca. Ao tomar conhecimento, ele afirma ter implementado um canal oficial de denúncias, o “Contato Seguro”, e foi a partir dele que os relatos começaram a chegar.
Diante das acusações, Nicolay foi desligado da sociedade. Uma certidão do 3º Ofício de Registro de Títulos e Documentos (RTD) confirma que Nicolay assinou uma notificação extrajudicial em que se afastava da empresa após denúncias que se enquadrariam como assédio sexual, moral, importunação sexual e constrangimento.
José Antônio relatou que, durante uma reunião informal em um café, falou diretamente sobre o tema com Nicolay e, naquele momento, o oficial de justiça chegou com a notificação para assinatura.
Uma das denúncias feitas na 16ª DP foi apresentada por uma ex-funcionária de Nicolay. Ela afirma que ele costumava fazer ensaios com funcionárias e alunas usando roupas sensuais — como trajes fitness, vestidos curtos, transparentes ou biquínis — e selecionava quais imagens seriam publicadas ou mantidas em posse pessoal.
Ainda segundo essa ex-funcionária, em um dos episódios vividos entre 2021 e 2023, Nicolay teria se aproveitado de um momento de fragilidade para beijá-la à força, o que a deixou profundamente incomodada.
Carol Vaz chegou a ser promovida a sócia após a saída de Nicolay, mas foi posteriormente afastada da sociedade por quebra de confiança, segundo a versão oficial. Depois disso, atuou por dois meses como personal trainer na academia até ser demitida em 9 de julho, afirmando ter sido desrespeitada durante sua saída.
Leia as notas oficiais na íntegra:
Nota da Academia DNA:
“CARTA ABERTA À VERDADE: SOBRE A DNA, NICO E CAROL VAZ”
“Durante anos, muitas vozes foram silenciadas dentro da Academia DNA. Vozes de mulheres, profissionais, funcionárias – vítimas de assédio moral e, em alguns casos, sexual. Hoje, essas vozes exigem ser ouvidas.
É preciso dizer uma verdade incômoda: Carol Vaz sabia. Sabia o que acontecia dentro da instituição em que trabalhou por duas décadas.
Sabia dos relatos envolvendo Nico, o responsável pela academia. Sabia dos sussurros nos corredores e das histórias contadas entre lágrimas nos bastidores.
Ainda assim, escolheu se calar. Mais do que isso: escolheu permanecer ao lado dele.
Escolheu a lealdade ao poder, ao prestígio e à conveniência, mesmo quando isso significava virar as costas para quem precisava de apoio. Não se trata apenas de omissão. Trata-se de uma decisão consciente de proteger quem praticava abusos.
Essa carta não é movida por ódio. É movida por respeito às vítimas. Por verdade. Por justiça.
Chega de celebrarmos quem silencia. Chega de aplaudir quem se omite diante da dor alheia. A reputação não pode valer mais do que a integridade.
Se há quem deseje defender Carol Vaz, que o faça com consciência. Mas que também encare os fatos: ela sabia — e escolheu não agir.”
Nota de Carol Vaz:
“Minha posição é de que absolutamente nunca em mais de 20 anos tive que encobrir nenhum tipo de comportamento criminoso porque absolutamente nunca fiquei sabendo. Desafio uma aluna ou profissional que seja a trazer um print ou áudio ou prova de ter me avisado ou comunicado de alguma coisa. Nunca, nenhuma delas, zero, alunas ou equipe, chegou até mim e disse absolutamente nada. Portanto, se houve conivência ou omissão, não foi da minha parte.
E se em algum momento soubesse desse tipo de coisa, eu teria me afastado e denunciado imediatamente. Não esperaria 10 anos. Nunca faria parte de nenhum formato que depreciasse, desmerecesse ou oprimisse mulheres. Minha vida toda é voltada justamente para o oposto. Estamos juntas, sempre estivemos e sempre será assim. Os homens que se virem rs
Não vim a público e nem irei falar sobre isso, porque é o que querem. Uma tentativa de destruição de caráter através de versões na mídia, ao invés de fazerem como quem busca justiça faz: procurar a justiça. E é isso que eu estou fazendo.
Não há nenhuma denúncia formal na polícia ou nada contra mim, isso é absolutamente falso. Mas há minha contra muita gente. E sobre denúncia em compliance da DNA? Bem… eu fui sócia dele por um ano e meio, e ele NUNCA me permitiu fazer parte do canal de compliance. Não é estranho? Não deveriam todos os sócios terem acesso? Pois é. Ele nunca me colocou. Se tiveram denúncias contra ele próprio, só ele mesmo sabia. Ele pode alegar o que quiser.
Da minha parte, nenhuma acusação será evitada. Pelo contrário, todos responderão criminalmente e civilmente pelo que estão alegando. E na lei, a verdade e justiça será feita. Na justiça terão que provar o que estão alegando, ou a justiça irá se encarregar das providências que essas alegações têm sobre minha carreira e vida profissional.
Se a intenção de todos é justiça, é justiça que todos terão. Quase me formei em direito e larguei no último período para trabalhar com Educação Física para poder mudar vidas. E é o que faço há mais de duas décadas. Confio que justiça será feita.
É o que nós todos queremos, não é? Que seja feita justiça.
Sobre a minha saída. Falei que me senti humilhada e destratada como mulher e sim, fui! Trabalhei 20 anos nessa empresa, treinei toda equipe, algumas conheço desde meninas, algumas ajudei a sair da depressão e obesidade, vencemos tantas coisas juntas e vivemos tantas coisas juntas.
O sócio atual José Antônio Rosa decidiu me demitir num dia de noite por WhatsApp e não me permitir entrar no outro. Mesmo que ele não me quisesse na empresa, porque não ter uma aula de despedida? Porque não ter um último momento e terminar tudo com respeito e carinho? Até porque a DNA postou nota oficial se desfazendo em elogios a mim, numa jogadinha furada de mídia, já que na prática não houve respeito e ele estava ao mesmo tempo me mandando notificações extrajudiciais. Não questionei ele me tirar. Ele pode mandar embora quem quiser. Questionei o desrespeito com a minha história e marca e cultura de empresa que eu criei por 20 anos, época em que ele esteve na Bodytech (de onde foi tirado) e Smartfit. Fora me demitir assim, ainda mandou trocar as chaves e até colocou segurança na porta pra caso eu aparecesse! Como assim? Isso obviamente foi feito pra me desestabilizar e constranger. Isso sim é assédio moral gravíssimo. E ele alega que eu ia invadir a academia pra pegar aparelhos?
Me permito usar a expressão da juventude ‘KKK’. Tenho todas as conversas. Chega a ser patético ele alegar que mandou a Carol Vaz embora porque ela ia invadir a academia. Acredita quem quiser. O que ele não esperava era o apoio massivo das alunas que eu recebi. E o carinho e indignação de milhões ao redor do mundo e milhares pelo Brasil e alunas. Aí, um dia depois, começou a ser mudado o roteiro. Um jogo de narrativas.
Muito fácil entender tudo que tá acontecendo, e como eu falei, justiça será feita. Na justiça.”
fonte: oglobo.com.br