O engenheiro mecânico Mateus Porto, de 29 anos, mora em Santa Rosa, Niterói, na Região Metropolitana do Rio, e trabalha na Cinelândia, no Centro da capital. Há quase um ano, ele estabeleceu uma rotina para chegar ao trabalho e sair de lá. Os deslocamentos entre a estação das barcas, na Praça Quinze, e o escritório são feitos em patinetes elétricas alugadas.
— Se fosse pegar o VLT teria que fazer baldeações. De patinete, é muito mais rápido. E mais barato do que se me deslocasse diariamente de carro pela Ponte Rio-Niterói pagando combustível e pedágio — contou o engenheiro, que também investiu em uma patinete própria.

Mateus está longe de ser uma exceção. Um estudo que embasa a consulta pública aberta pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico — para regulamentar a lei municipal que disciplina o uso do equipamento no Rio — mostra que os deslocamentos no Centro ocorrem principalmente durante a semana, das 9h às 14h e em horários que coincidem com o fim do expediente, a partir das 19h. O estudo também vai servir de base para definir novas áreas de uso das patinetes. As regiões mais cotadas são Barra da Tijuca e Tijuca.
— Em 15 minutos consigo ir da estação das barcas ao escritório, na Avenida Rio Branco. Se for esperar pelo ônibus ou VLT, esse tempo pode chegar a meia hora. É mais prático — explicou Isabela Mayer, de 20 anos, estagiária de software de uma empresa de engenharia.
Micromobilidade
Por sua vez, em Copacabana, que tem a maior demanda pelo serviço, respondendo por cerca de 35% dos deslocamentos, eles são utilizados mais nos fins de semana, a partir das 11h. Os dados foram fornecidos pela empresa Whoosh, que desde junho de 2024 oferece patinetes compartilhadas na Zona Sul e no Centro, únicas áreas autorizadas pelo município. A consulta pública está aberta a sugestões da população até domingo, dia 4, pelo site https://www.sandboxrio.com.br/consulta_patineterio.html.
— Pela consulta pública, soubemos que no caso da Tijuca há demanda porque grande parte das bicicletas de aluguel é usada por entregadores, e nem sempre há disponibilidade de uso imediato. Já na Barra da Tijuca, são mencionados os longos trajetos possíveis de serem estabelecidos como um ponto forte para o uso das patinetes — disse o secretário de Desenvolvimento Econômico, Osmar Lima.

O secretário diz que ainda não há prazo para a criação do marco regulatório. Uma das ideias em análise é a possibilidade de criar baias de estacionamento regulamentadas para as patinetes em vias públicas, como já existem hoje para motocicletas e carros de passeio.
— É bem provável que no modelo final sejam determinadas baias devidamente demarcadas e sinalizadas para impedir que as patinetes sejam estacionadas de qualquer maneira. Em outros países, esse modelo tem tido resultados positivos de organização urbana — acrescentou Osmar.
O estudo mostrou ainda que, de junho de 2024 até meados de março, 1,4 milhão de viagens foram feitas em patinetes de aluguel, que percorreram o equivalente a 3,6 milhões de quilômetros. O tempo médio do uso do equipamento é de cerca de 16 minutos. A frota hoje é de 1.606 aparelhos para locação.
— Existe uma demanda pelo serviço. O ideal é que haja uma ampliação das áreas liberadas para as patinetes. Mas é claro que o relevo da cidade, muito montanhoso, é um limitador — analisa José Ricardo Afonso, COO da Whoosh.
A locação é semelhante ao serviço de aluguel de bicicletas. O usuário se cadastra e paga pelo tempo de uso do equipamento. Há uma taxa de R$ 2 pelo desbloqueio da patinete, e o usuário paga R$ 0,80 por minuto de utilização. A identificação das vias em que o uso do equipamento é permitido aparece no aplicativo. Caso saia dessa rota, o aparelho é bloqueado remotamente pela empresa.
Aline Leite, coordenadora de Transporte Público do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), observa:
— As patinetes entram em um conceito de micromobilidade, por isso, o tempo de uso delas não é tão longo. São usuários que utilizam o serviço para seguir viagem em outros modais, como trens, metrô e ônibus. Mas é preciso também que sejam criadas rotas seguras para os usuários. Muitas vezes, as vias não estão preparadas para os aparelhos.
Morador do Flamengo e usuário do serviço, o advogado Matheus Reis, de 29 anos, dá um exemplo disso:
— Há lugares, como na Cinelândia, que preciso desviar de desníveis causados por pedras portuguesas soltas, por falta de manutenção — disse Matheus.
Esse tipo de meio de deslocamento é considerado pela Resolução 996 de 2023, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), como equipamentos autopropelidos, por dispor de acelerador e ter capacidade de chegar a 32km/h. No Rio, as patinetes estão ajustadas para não passarem dos 20km/h. Nesta categoria estão também alguns modelos de bicicletas elétricas.
Seguro acionado 7 vezes
Por desenvolverem uma velocidade relativamente elevada, a Comissão de Segurança no Ciclismo do Rio avalia que já passou da hora de a prefeitura ter regras próprias para o uso de patinetes como forma de prevenir o risco de acidentes. A entidade destaca que há um ano a Câmara Municipal aprovou uma lei que seguia as orientações do Contran, mas depende da regulamentação que está em discussão.
— Somos favoráveis às patinetes como recurso de mobilidade, mas é preciso ter regras que disciplinem o uso. A percepção geral é de que aumentou a quantidade de acidentes com ciclomotores na cidade, incluindo patinetes — disse Viviane Zamperi, integrante da Comissão de Segurança.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, apenas este ano a corporação foi acionada para atender a 25 casos envolvendo acidentes com patinetes. O CEO da Whoosh, por sua vez, diz que em situações de aglomerações, a velocidade dos equipamentos pode ser reduzida remotamente, por medida de segurança, para até 12km/h.
— As ocorrências são reduzidas. O uso do aparelho é coberto por um seguro que protege o usuário e terceiros. Em 4,5 milhões de viagens já feitas em todo país, o seguro só foi acionado sete vezes — afirmou.