‘Rebelião’ no Península: moradores denunciam insegurança e cobram transparência da associação

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O luxuoso condomínio Península, na Barra da Tijuca, que abriga cerca de 25 mil moradores em 33 condomínios de alto padrão — entre eles o governador Cláudio Castro, o ex-prefeito Marcelo Crivella e celebridades como Ludmilla, Murilo Rosa e Fernanda Paes Leme — vive dias de tensão.

No último sábado (16), centenas de moradores realizaram um protesto contra a Associação Amigos da Península (Assape), entidade que administra o sub-bairro. O ato, iniciado às 14h na Avenida dos Flamboyants, reuniu assinaturas para renovar a administração e teve como principais bandeiras a falta de segurança e a ausência de transparência na gestão dos recursos.

Críticas à gestão e aos serviços

Segundo os moradores, cada uma das 5.300 unidades contribui com cerca de R$ 430 mensais, o que representa quase R$ 2,5 milhões por mês em arrecadação. O valor deveria garantir serviços como transporte interno gratuito até o metrô e a praia, vigilância, controle de acessos e manutenção das áreas verdes.

Entretanto, as queixas são de que os serviços não correspondem ao valor pago.

“Os ônibus estão circulando superlotados, a manutenção das áreas verdes é deficiente e não há transparência na prestação de contas do recurso arrecadado. O valor de R$ 2,5 milhões por mês é considerado elevado para o serviço entregue”, criticou um morador que preferiu não se identificar.

Insegurança crescente

Nos últimos dois meses, foram registrados dois assaltos dentro do condomínio, situação considerada inédita até então. Um dos episódios envolveu uma moradora que teve o celular roubado por um motociclista.

O professor e servidor público Felipe Ribeiro, de 41 anos, afirma que os crimes romperam a sensação de “bolha de proteção” que os moradores acreditavam ter:

“Esse sentimento de insegurança cresceu após esse assalto. A cidade como um todo enfrenta problemas de violência, mas aqui sempre houve a percepção de que estávamos seguros. Quando acontece algo assim, essa confiança se quebra”, relatou.

A insegurança aumentou ainda mais após a retirada das botoeiras que registravam a entrada e saída de pessoas nos edifícios.

“Chegou ao nosso conhecimento que a botoeira não era permitida. Parece que a associação se antecipou a uma notificação da Prefeitura e retirou o equipamento, que era fundamental para o controle. Agora, quem cometer um delito consegue sair livremente, pois a cancela fica aberta”, explicou Ribeiro.

Bala perdida na varanda

O histórico de preocupação com segurança também inclui um episódio ocorrido em novembro de 2023, quando a varanda de um dos apartamentos foi atingida por uma bala perdida. Segundo o relato do morador, o projétil foi recuperado dentro do imóvel. À época, a PM registrou confronto entre traficantes e milicianos em Rio das Pedras, comunidade vizinha ao condomínio.

Falta de transparência e governança contestada

Outro ponto levantado pelos moradores é a opacidade na gestão financeira da Assape. Apesar da arrecadação milionária, a associação disponibiliza apenas “balancetes sintéticos”, sem apresentar contratos ou detalhamento dos gastos.

“Entrei com outros moradores na associação para solicitar cópias de todos os contratos, mas recebemos só parte deles. Não há transparência. Queríamos, por exemplo, verificar se os vigilantes contratados eram realmente os que estavam atuando”, disse Ribeiro.

As críticas também recaem sobre a estrutura de governança, considerada concentrada e pouco democrática. Segundo relatos, mesmo que a maioria dos moradores discorde da gestão atual, não há meios práticos de destituir o diretor executivo, já que o estatuto concede poder de veto à construtora Carvalho Hosken.

“Hoje, mesmo que metade mais um dos condomínios votasse pela mudança, não conseguiríamos removê-lo. Ele mesmo diz que ninguém pode tirá-lo, só a Carvalho Hosken. É como viver em uma ditadura dentro de casa”, desabafou Ribeiro.

Próximos passos

Nesta segunda-feira (18), moradores pretendem protocolar, por meio de advogado, uma notificação exigindo cópias dos contratos firmados em 2024. Caso não haja resposta em até 72 horas, eles ingressarão com uma ação de prestação de contas na Justiça.

Assape e Carvalho Hosken

A reportagem procurou a Associação dos Amigos da Península (Assape) e a construtora Carvalho Hosken para comentar as denúncias. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno. O espaço segue aberto para manifestações.

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