A assistente comercial Amanda dos Santos, de 27 anos, que vive em um condomínio na Avenida das Américas, na Barra da Tijuca, estava voltando da faculdade, por volta das 19h, em setembro do ano passado, quando foi roubada em frente ao Bosque da Barra. Desde então, a jovem sente medo de caminhar próximo ao local. A precaução têm uma razão: a crescente sensação de insegurança que domina não apenas sua rotina, mas a de muitos moradores assustados com os episódios de violência no bairro nos últimos meses.
— Eles pularam do muro e roubaram o meu celular. Em seguida, fugiram novamente para o bosque. Só que uns minutos depois eles pularam de novo o muro do parque e levaram a minha mochila. Eu fiquei super assustada porque naquele dia tinha decidido vir andando para casa porque vi três viaturas passando, mas não adiantou nada — diz Amanda dos Santos.
Diante do medo, moradores das proximidades do Península, condomínio do governador Cláudio Castro, decidiram criar, há uma semana, uma petição virtual, solicitando policiamento para os arredores do condomínio, que já tinha reunido mais de 800 assinaturas nos três primeiros dias, conforme informou Ancelmo Gois, em seu blog no site do GLOBO.
De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), na comparação entre janeiro e setembro de 2023 e 2024, o total de roubos aumentou 29% na Barra da Tijuca (área da 16ª DP), passando de 752 para 969. Entre eles, o roubo de aparelho celular subiu 30% no período, de 238 para 310 casos registrados. O roubo a transeunte também cresceu, passando de 432, em 2023, para 564, o que representa um aumento de 31%.
Presidente da Câmara Comunitária da Barra da Tijuca, Delair Dumbrosck teme que a situação venha a se agravar e o bairro se torne palco de uma disputa entre grupos criminosos, como na Muzema ou em Rio das Pedras, por exemplo. Dumbrosck classifica a circunstância como uma “guerra anunciada”.
— Além do aumento de assaltos na Barra, esse crescimento de violência causada por grupos criminosos na Muzema, Tijuquinha, Rio das Pedras e Terreirão tem nos mostrado que esses comandos se aproximam do bairro e não estamos vendo nenhum planejamento de segurança pública para isto. Chamamos a atenção que isto é uma guerra anunciada — ressalta.
Rota de fuga
Conhecido por ser um ponto turístico em meio à natureza, o Bosque da Barra se tornou um dos trajetos mais temidos pelos moradores. O vendedor Marcos Santos, de 28 anos, conta que também foi roubado, no início deste ano, quando voltava do trabalho:
— O Bosque da Barra, infelizmente, se tornou um lugar que eles fogem e ninguém mais acha. Acho que eles ficam de espreita esperando as pessoas passarem para agir. Eles me roubaram, puxaram meu celular e meu relógio, e saíram correndo para o mato.
A situação não é diferente ao longo da Avenida das Américas. Apesar de nunca ter sido vítima, o empresário Fagner Mendes, de 36 anos, alega que já presenciou uma série de delitos. Em um dos episódios, Mendes lembra que o bandido chegou a quebrar o vidro do carro de uma mulher para conseguir levar os seus pertences.
— O delinquente deu vários socos no vidro da mulher, jogou uma pedra até quebrar para que ela desse o seu celular. Ali, perto da Alvorada, também está tendo arrastão direto. O cenário é o mesmo próximo ao viaduto do Rio Centro. Eles saem correndo para o mato e ninguém vê. Nós acabamos ficando com essa sensação de medo porque a violência virou rotina — pontua.
Nas redes sociais, nesta segunda-feira, moradores da região relatam que uma mulher sofreu uma tentativa de assalto quando estava no carro com a filha atrás do Barra Shopping. “Tudo aconteceu por volta das 18h30, ela é moradora do Península”, escreveu o usuário. Uma outra pessoa alerta que não há policiamento nas ruas: “Não tem policiamento. Quando tem são dois policiais que ficam mexendo no celular”.
O que diz a PM
Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria de Polícia Militar informa que, segundo o comando do 31º BPM (Recreio), a região conta com o policiamento realizado por moto patrulha, policiais a pé, com apoio do Regime Adicional de Serviço (RAS), policiais do Barra Presente e Bairro Presente.
No último mês, segundo a PM, o comandante da unidade se reuniu com representantes da Associação Amigos da Península, que foram recebidos no batalhão, para ouvir as principais demandas.
“É importante ressaltar a importância do trabalho integrado que vem sendo executado com a Polícia Civil, a fim de identificar os autores e prender os criminosos”, conclui a nota.
Enquanto isso, a Polícia Civil informou que investiga a ação de grupos criminosos na região. A corporação destaca que a 16ª DP (Barra da Tijuca) atua de forma integrada com a Polícia Militar e com o Segurança Presente, responsáveis pelo policiamento ostensivo, para coibir a prática de crimes.
A partir de troca de informações, a polícia aponta que conseguiu identificar parte dos autores, tendo alguns sido reconhecidos pelas vítimas. No entanto, as diligências seguem para identificar e responsabilizar criminalmente os demais.