Ao projetar a ocupação da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, o arquiteto e urbanista Lúcio Costa imaginou como seria a vista do bairro até de quem está no mar. Para aproveitar o belo desenho das montanhas e o horizonte da praia, a depender de onde o observador admira a paisagem, foi desenhada a construção de 80 torres cilíndricas espalhadas pela região e espaçadas para não atrapalhar a vista. Quase seis décadas depois, o último terreno delimitado por Costa para receber um prédio de 30 andares começará a ser construído este ano.
O prédio será construído em um terreno na quadra da praia, na altura do Posto 5. Os moradores que não tiverem vista do mar de suas varandas poderão apreciar a vista do oceano de um lounge no 18º andar do edifício, onde uma área comum será criada. Batizado de Coupé Tower, o projeto de luxo da RJZ Cyrela não seguirá a planta cilíndrica imaginada por Lúcio Costa em 1969. A inspiração da empresa é criar uma estrutura que lembre velocidade e abusar das linhas não orgânicas para isso.
Na fachada, por exemplo, serão usados fibra de vidro, pintura automotiva e revestimentos cerâmicos, que permitem flexibilidade e resistência à maresia. Um dos braços da montadora Porsche, a Porsche Consulting foi contratada para fazer a consultoria do projeto. No térreo, a piscina terá uma raia de 25 metros. Dentre os serviços, os moradores terão concierge, brinquedoteca, salão de festas, academia, quadra recreativa, central de encomendas, facilidades pay per use, shuttle exclusivo para o metrô e pontos estratégicos da região, além de tomada para recarga de bike e carros elétricos.
As vendas ainda não foram abertas, mas o mercado estima que as unidades mais caras cheguem a R$ 10 milhões. A torre, com 142 unidades que variam de 85m² e 245m², terá a companhia de um prédio residencial de seis andares com outros 28 apartamentos no mesmo terreno. Segundo a Christiane Nava, gerente de produto da RJZ Cyrela, a mudança de um formato cilíndrico para retangular foi para melhor aproveitar a planta do edifício. Ela explica ainda que foi feito um estudo para ter a certeza de que o prédio não fará sombra na praia, apesar de sua proximidade. A previsão de entrega das chaves é 2029.
— Temos uma joia em mãos. A partir do sétimo pavimento, todos têm vista para o mar na lateral ou frontal. Esperamos que o maior perfil sejam de moradores do Rio, mas também estamos focando em potenciais compradores internacionais, de Minas Gerais, São Paulo e Goiás — revela.
O arquiteto e urbanista Washington Fajardo conta que a sombra na praia foi uma das preocupações de Lúcio Costa ao projetar a Barra da Tijuca. Em Balneário Camboriú, Santa Catarina, por exemplo, as sombras projetadas pelos arranha-céus na areia são alvo frequente de críticas. Em sua avaliação, no entanto, houve uma falha ao imaginar um bairro muito dependente do transporte individual, o que resultou em problemas crônicos de trânsito.
— Ele procurou equilibrar essas torres com condomínios horizontais para encontrar uma solução a essa paisagem. Sua preocupação era que um crescimento sucessivo poderia consumir a natureza, como o que aconteceu em bairros da Zona Sul — explica ele.

Das 80 torres cilíndricas, apenas quatro foram construídas. Os espaços foram usados para outros projetos imobiliários, como prédios residenciais. Do desenho de 1969, foram erguidas as torres Charles de Gaulle, Ernest Hemingway e a Abraham Lincoln, também conhecida como Torre H, desenhadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
Somente as três primeiras foram entregues, e a última ficou abandonada por décadas. Em 2023, as obras foram retomadas. A torre foi batizada de Niemeyer 360° pela incorporadora Capital 1. Serão 448 apartamentos distribuídos em 37 andares, com previsão de entrega para o final do ano. Segundo a empresa, foram concluídos quase 65% das obras.
— Houve trabalhos de inspeção minuciosa da estrutura, e de recuperação pontual onde necessário. A obra foi paralisada em um estado bem avançado, com revestimentos que protegeram bem a estrutura contra intempéries — explica Antônio Carlos Osório, sócio da companhia.