Mensagens interceptadas pela Delegacia de Repressão aos Entorpecentes (DRE) no celular de Carlos Costa Neves, conhecido como Gardenal e descrito pela polícia como “general de guerra” do Comando Vermelho (CV), revelam que um traficante se ofereceu para assassinar um homem apontado como líder da milícia de Rio das Pedras. O crime seria executado na praia da Barra da Tijuca, intensificando a disputa na Zona Sudoeste do Rio.
Contexto: Assassinato dos Médicos
As mensagens, obtidas pelo GLOBO, são de novembro de 2023, cerca de um mês após o assassinato por engano de três médicos paulistas que participavam de uma conferência de ortopedia. Os médicos foram mortos em um quiosque na orla da Barra na primeira semana de outubro, em um momento em que o CV tentava invadir comunidades dominadas pela milícia no Itanhangá. A investigação concluiu que o ortopedista Perseu Ribeiro de Almeida foi confundido com o chefe da milícia de Rio das Pedras, Taillon de Alcântara Pereira Barbosa, de 26 anos. A DRE aponta que o crime dos médicos não foi premeditado, dada a rapidez da ação (cerca de 25 segundos) e o fato de os atiradores não terem se preocupado em cobrir os rostos.
A Nova Tentativa de Ataque
Um mês depois, o foco do CV se voltou para outro suspeito de chefiar a milícia de Rio das Pedras, Gerlan Anacleto de Oliveira. Um traficante ligado ao CV e que atuava no Gardênia ofereceu-se a Gardenal para executar o miliciano.
Na conversa, o traficante lamentou ter estado de “plantão” na noite anterior, pois havia recebido a informação de que Gerlan estava na praia da Barra. O traficante sugere que o verão seria a época ideal para o ataque:
“Tava lá na praia, chefe, mas sendo que eu tava no plantão. Pô, se desse pra mim ter ido, né? Nós tínhamos pegado ele ontem mesmo. Mas tranquilo, agora é verão. Agora ele vai querer piar só na praia, só lá no posto 3. Quando a formiguinha bater que ele tá lá já era. O momento de nós acabar logo com ele, logo, sem muito papo”, escreveu.
Estrutura de Invasão e Monitoramento
Outras mensagens interceptadas demonstraram que o Comando Vermelho estava planejando uma base logística para permanecer no bairro:
- Mapeamento de Imóveis: Gardenal ordenou aos traficantes que mapeassem e acessassem casas vazias que eram usadas pela milícia. O objetivo era transformar esses locais em bases para a facção. “Manda abrir, fazer a chave e sem arrombar a porta, no talento. Pega a visão de todas as casas vazias aí, que era de milícia aí também e me passa tudo”, instruiu Gardenal.
- Vigilância Policial 24h: Mensagens também revelaram que o CV estabeleceu uma estrutura de monitoramento 24 horas da movimentação das tropas policiais. Comunicados de acompanhamento dos passos das forças de segurança foram encontrados nos grupos de mensagens monitorados pela polícia, que eram acompanhados de perto por Gardenal. O traficante, que é um dos alvos da megaoperação da semana passada nos complexos da Penha e do Alemão, segue foragido, e os dados interceptados abastecem diversas investigações contra o tráfico.



